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Suposto alfabeto no canto das baleias pode ter sido encontrado; entenda

Por Igor Jordan

08/05/2024 às 03:19:39 - Atualizado há

Na verdade, eles emitem cliques que soam como espécie de mistura de código Morse e uma porta rangendo (ouça abaixo). Eles produzem, em média, pulsos de três a 40 cliques, chamados de codas. Eles costumam cantar as codas em grupo, o que alimenta a hipótese de estarem se comunicando.

Com o passar dos anos, Gero e pares revisaram milhares de horas de gravações das codas dos cachalotes. Eles descobriram que elas se enquadram em tipos distintos. Um desses tipos chama-se “1+1+3”, pois é formado por dois cliques separados por uma pausa, seguidos por três cliques em rápida sucessão.

Com o auxílio de filantropos, os pesquisadores iniciaram o projeto Cetacean Translation Initiative (CETI, da sigla em inglês), visando investigar se a inteligência artificial (IA) e demais tecnologias computacionais avançadas eram capazes de decodificar o canto das baleias. O Olhar Digital falou sobre o projeto aqui.

Fazendo parte do projeto, Pratyusha Sharma, estudante de graduação em ciência da computação no MIT, procurou dar nova visão aos dados coletados em Dominica, mas ficou frustrada como os biólogos visualizaram isso.

Na tela do computador, as codas surgiram como série de pontos ao longo de linha horizontal, sendo que cada ponto representava um clique sonoro. Sharma achou difícil comparar as codas, principalmente quando duas ou mais baleias sobrepunham os cânticos umas das outras.

Dessa forma, ela traçou os cliques de cada coda como pontos em linha vertical. Em seguida, colocou as codas ao longo de linha horizontal com base em quando cada uma começou.

No novo layout, a então estudante viu algo novo. Quando um cachalote repetia uma coda, por vezes, estendia o tempo entre os cliques, aumentando-o gradativamente. O fenômeno foi apelidado de “rubato”, termo musical para acelerá-lo e desacelerá-lo.

Gero se surpreendeu com o fato de Sharma conseguir ver algo de diferente no cântico nas canções dos cachalotes, algo que não tinha sido percebido até então. “Era uma maneira que não havíamos visto”, afirmou.

As codas são tão rápidas que o ouvido humano pode perder um rubato, mas os pesquisadores encontraram o padrão em milhares de codas gravadas. Eles creem que o rubato desempenha papel importante na comunicação das baleias e descobriram que, depois que uma baleia produzia o rubato, as baleias vizinhas, imediatamente, combinavam a mudança de ritmo com suas próprias codas.

A nova perspectiva obtida por Sharma também revelou que os cachalotes podem, por vezes, adicionar clique extra ao final de cada coda, algo chamado de ornamentação.

Codas dos cachalotes possuem diversas variantes (Imagem: Martin Prochazkacz/Shutterstock)

Mais dados obtidos

Os investigadores encontraram, também, evidências de que os cliques adicionais tinham sentido: baleias que lideram grupos costumam usar a ornamentação, ao passo em que as seguidoras respondiam com suas próprias codas com frequência.

A análise mostrou que os dados obtidos sobre as codas não captavam totalmente sua complexidade. Enquanto codas 1 + 1 + 3 podem durar quatro quintos de segundo, um segundo, ou 1,25s, outras codas podem durar apenas um terço de segundo, ou 0,5s.

Foram identificadas, ao todo, 156 codas distintas, cada uma com várias combinações de andamento, ritmo, rubato e ornamentação. Gero disse que a variação é incrivelmente semelhante à forma como humanos combinam movimentos labiais com os da língua para produzir conjuntos de sons fonéticos.

Como sabemos, um único som, como “ba” ou “na” não possui significado semântico sozinho (ao menos, não em crianças e adultos que sabem proferir palavras), mas, quando as combinamos, criamos palavras, como “banana”.

Com esse pensamento em mente, os pesquisadores trouxeram à luz a hipótese de que os cachalotes possam combinar características de codas para transmitir significado de maneira semelhante a nós.

Outros especialistas entendem que o “alfabeto” das baleias marca avanço emocionante, porém, afirmaram que as codas dos cachalotes podem lembrar mais música do que linguagem.

Taylor Hersh, bioacústica da Oregon State University, disse que “a música pode ter forte influência nas emoções sem realmente transmitir informações”. Dessa forma, o rubato pode ser uma maneira de os cachalotes estreitarem seus laços sociais, combinando com suas canções, segundo a profissional.

Já Jacob Andreas, cientista da computação do MIT e autor do estudo, pontuou que o alfabeto permite, agora, aos pesquisadores, que se aprofundem no canto das baleias.

Agora, colocamos o maquinário em funcionamento para começar a enfrentar o objetivo muito mais ambicioso e de longo prazo do Projeto CETI, que é tentar descobrir o que tudo isso realmente significa.

Jacob Andreas, cientista da computação do MIT e autor do estudo

Grupos de cachalotes acrescentam cliques em suas codas (Imagem: Martin Prochazkacz/Shuttestock)

Continuidade da pesquisa

Atualmente, microfones implantados nas águas do Caribe seguem captando os sons oceânicos 24h por dia. Além disso, os cientistas estão programando computadores para aprender a captar o canto dos cachalotes a partir do ruído de fundo.

Andreas e seus colegas também vêm treinando programas de IA similares ao ChatGPT, da OpenAI. Após ouvirem o canto dos cachalotes, esses chatbots aprenderão a reconhecer além do rubato e da ornamentação, como características ainda não descobertas pelos cientistas.

Eles esperam que os computadores com a IA possam compor suas próprias canções de baleia, que, então, poderão ser tocas para as próprias baleias. Contudo, tal esforço deixa outros especialistas céticos, como Luke Rendell, biólogo marinho da Universidade de St. Andrews (Escócia), que se preocupa com a possibilidade de os modelos de IA assumirem que os cantos das baleiam sejam uma espécie de linguagem e não algo mais próximo a uma música.

Não tenho dúvidas de que seria possível produzir modelo de linguagem que pudesse aprender a produzir sequências semelhantes às dos cachalotes. Mas isso é tudo que você consegue.

Luke Rendell, biólogo marinho da Universidade de St. Andrews (Escócia)

Fonte: Mobile.de
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